quarta-feira, 1 de julho de 2009

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Risco, logo existo

A série de desenhos do artista plástico Marivaldo Lima, feitos em nankim sobre papel, não por acaso traz o sugestivo título “Risco, logo existo”. Numa alusão clara, segundo o artista, à proposição formulada pelo filósofo francês René Descartes “Penso, logo existo”.
Os desenhos, curiosamente, são expostos num bloco de notas, fato bastante significativo já que esse suporte comumente se presta apenas para o registro de ideias. De acordo com o artista, sua intenção inicial era apenas “esboçar rapidamente ideias e conceitos” que ele vem desenvolvendo há algum tempo. Mas, no momento único da criação, quando a imaginação e o fazer do artista unem-se num objetivo comum, a tradução do pensamento do eu que cria, ele percebe na condição efêmera do bloco de notas mais um desdobramento desses conceitos. Sendo assim, não é difícil chegarmos à conclusão de que Marivaldo, como Descartes e como todos nós, se depara continuamente com a dúvida existencial. A diferença é que na imaginação do artista esse estado de negação e afirmação incessante se transubstancia em arte.
Outro aspecto relevante em relação às imagens é a forma como foram concebidas. Quando se desenha à nankim é comum ocorrerem acidentes com a tinta ainda fresca e acontecerem borrões indesejáveis. Ora, foi exatamente a partir desses borrões feitos ao passar o dedo sobre a tinta fresca que os desenhos começaram a tomar forma e, assim, adquirirem características próprias.
Os primeiros desenhos da série são abstrações a partir de formas como o círculo, o quadrado e a linha, sempre combinados com um rastro de tinta que confere volume a essas formas e as insere no contexto expressionista. Em seguida o artista faz o percurso inverso, menos usual, do abstracionismo para o figurativo, talvez a procura de se assemelhar e nos assemelhar com o tema de sua arte. Nesse momento, o mundo real nos toma de assalto e as linhas estilizadas, no melhor sentido do termo, os borrões e hachuras, expressam de maneira instintiva e incisiva o entender solitário do sujeito que cria. E ele dá à luz, figuras intrigantes e curiosas: mãos que refletem diversos sentimentos quando se invadem e se transformam; seres com rostos serenos, tristes, surpresos, aterrorizados ou sem rostos e corpos disformes, etéreos, trespassados por si mesmos, por outros. Com seus desenhos, figuras e abstrações, o artista plástico Marivaldo Lima imprime em nós fortes sensações, e suscita a necessidade de um olhar mais apurado sobre nós e sobre nossa realidade.
Aspásia Barbosa
Fortaleza, abril de 2009

segunda-feira, 13 de outubro de 2008